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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ética: A morada do ser




ÉTICA: A MORADA DO SER

Ellen Maianne Santos Melo Ramalho 1


O termo ética, conhecido atualmente, deve-se a tradição grega, pois o termos ética é derivado da palavra grega Ethos. Ethos significa: morada, modo de ser, jeito de ser, caráter. Desta forma, quando os gregos se referiam à ética, não apenas falavam de princípios que norteiam nosso comportamento na sociedade em que vivemos, mas, de forma mais ampla, com a profundidade filosófica própria aos gregos, queriam nos levar a pensar na relação entre ser e estar. Ou seja, na relação constituinte da existência humana, a relação entre tempo e espaço. Todo aquele que é no tempo, que existe, existe em algum espaço. Ao mesmo tempo que constituímos este espaço, ele nos constitui. Daí a importância de pensar em ética, enquanto sendo a morada humana, pois entenderemos o homem em sua constituição fundante, em sua existência no espaço.
Para ilustrar a ideia grega que entende a ética enquanto morada humana, devemos pensar na imagem de uma casa. E, é claro, filosofar sobre isso, para ampliar seu sentido e alargar nossa compreensão. Uma casa não se restringe apenas aos seus aspectos materiais. Não são apenas as quatro paredes e o teto (ou demais estruturas físicas) que fazem da casa, sua casa. A casa é uma morada existencial, o que excede a simples caracterização material. Não é apenas a parte física e externa que a torna sua casa, mas quando pensamos na nossa casa, a ideia que nos toma, imediatamente, é a casa vista a partir de dentro. É assim que o ser humano se move: o que nos impele à ação, vem de dentro. De acordo com Edgar Morin, no livro os Sete saberes necessários à educação do futuro,”as vias de entrada e de saída do sistema neurocerebral, que colocam o organismo em conexão com o mundo exterior, representam apenas 2% do conjunto, enquanto 98% se referem ao funcionamento interno” (MORIN, 2000, p. 21). Daí, podemos entender a força do nosso interior e, de como o nosso interior não é apenas uma transposição do mundo exterior, não estando o primeiro, condicionado ao último.
Assim, entendemos que a abordagem existencial (interior) transcende a abordagem material, no entendimento do que significa morada. A nossa casa, vista do interior não são apenas paredes, telhas... Também não é apenas um conjunto de objetos que a decora e preenche os espaços vazios, de forma funcional. Mas, vendo uma casa enquanto morada, nos remetemos a uma experiência originária que torna os dados irredutíveis. Pensamos no conjunto de relações que estabelecemos nesta morada pois, é nesta que vivemos e convivemos. Nos autoconstituimos e construímos relações: com as coisas e, principalmente com os outros. Nossa morada é um lugar de intimidade, onde nos escondemos e nos encontramos.
Quem, que já morou em alguma casa, tendo a oportunidade de voltar a mesma, em uma situação qualquer, não foi tomado pelas lembranças de um modo de ser, do tempo em que viveu naquele espaço? Assim, pensar em ética enquanto morada é pensarmos sobre o nosso modo de ser no mundo. Não um modo de ser solitário, mas sim, solidário. Uma vez que o mundo é a grande casa comum de todos os homens. Que é composto por um sem número de ‘pequenas’ casas, cada uma com seu jeito de ser. As casas estão dentro de uma cidade, que está dentro de um país que faz parte do mundo. Desta forma, o jeito de ser de cada morada particular está relacionado a grande morada, a casa comum dos habitantes do planeta: a Terra
Como toda casa precisa ser arrumada e mantida, quando falamos em ética envolvemos diversas temáticas como, política, economia e ecologia, temas concernentes a organização e manutenção do meio em que se vive: o meio ambiente. Desta forma, pensar em ética é pensar em meio-ambiente. Lembrando Leonardo Boff, o meio em que vivemos deve ser um lugar bom para morar e demorar.

Distinções entre Ética e Moral

E ético é tudo aquilo que se faz para morar bem. O morar bem implica uma teoria e uma prática. Pois a teoria orienta a prática. É esta dupla faceta da morada humana que nos faz distinguir ética de moral.
A ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu destino, estatui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole.
A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos. Uma pessoal é moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente, ser questionados, pela ética.
Uma pessoa pode ser moral (segue os costumes até por conveniência) mas não necessariamente ética (obedece à convicções e princípios).

Quadro das Virtudes Morais

Sentimento ou paixão
(por natureza)
Situação em que o sentimento ou paixão são suscitados
(por contingência)
Vício (excesso)
(por deliberação e escolha)
Vício (falta)
(por deliberação e escolha)
Virtude (justo meio)
(por deliberação e escolha)
Prazeres
Tocar, ter, ingerir
Libertinagem
Insensibilidade
Temperança
Medo
Perigo, dor
Covardia
Temeridade
Coragem
Confiança
Perigo, dor
Temeridade
Covardia
Coragem
Riqueza
Dinheiro, bens
Prodigialidade
Avareza
Liberalidade
Fama
Opinião alheia
Vaidade
Humildade
Magnificência
Honra
Opinião alheia
Vulgaridade
Vileza
Respeito próprio
Cólera
Relação com os outros
Irascibilidade
Indiferença
Gentileza
Convívio
Relação com os outros
Zombaria
Grosseria
Agudeza de espírito
Conceder prazer
Relação com o próximo
Condescendência
Tédio
Amizade
Vergonha
Relação de si com os outros
Sem-vergonhice
Timidez
Modéstia
Sobre a boa sorte de alguém
Relação dos outros consigo
Inveja
Malevolência
Justa apreciação
Sobre a me sorte de alguém
Relação dos outros consigo
Malevolência
Inveja
Justa indignação

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca de fundamentos. Petrópoles, RJ: Vozes, 2003.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
MORIN, Edgar. Os Sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.


1 Mestranda em Educação, Especialista em Filosofia: Epistemologia e Fenomenologia, Professora de Filosofia do Instituto Federal de Alagoas -IFAL, Campus Arapiraca

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